Fabrica de Pedra

A história de Luiz Gonzaga da Silva(1919-2006)

I -A fábrica de “Pedra”.

Luiz Gonzaga da Silva nasceu em 09 de agosto de 1919, às margens do Rio São Francisco, na antiga cidade de Piranhas, hoje Floriano Peixoto. Depois mudou-se para Pedra, hoje Delmiro Golveia(AL), onde passou a infância e a adolescência.

Aos 9 anos teve as primeiras noções de música com o maestro João Ribeiro, que era freguês de sua mãe, uma das lavadeiras do local. No ano seguinte ganhou um violão e começou a tocá-lo sozinho. Seu pai, que era marceneiro, ensinou-lhe o trabalho com madeira. Assim, além de ajudar a construir móveis, aos 12 já tocava violão popular, tuba e bombardino na banda da cidade, banda esta patrocinada pela fábrica de linhas Agro Fabril Mercantil que usava a marca Padre Cícero. Fábrica de linhas de Delmiro Golveia

Participou como violonista-mirim nas apresentações do grupo teatral Marquise Branca, que passou pela cidade; convidado a seguir com o grupo, não o fez devido a sua pouca idade.

Em uma das festas da companhia, estando o menino Luiz perto da banca da roleta, um homem de roupa cinza e chapéu azul pediu-lhe para comprar cigarros, e até lhe deu gorjeta. Quando chegou a casa, ouviu de seu pai que aquele homem era o cangaceiro Lampião, que ali estava, acompanhado dos comparsas Corisco e Gato.

Em toda a sua adolescência observava os músicos locais tocando frevos, baiões, maracatus, etc. e tentava imitá-los. Aos 15 anos iniciou-se na arte da luthieria com o construtor José Peba, que fazia violinos, violas e rabecas.

Gonzaga contava que, quando descobriu o artesão, começou a rodear-lhe a oficina; ao luthier não agradava a presença daquele garoto curioso que gostava tanto de madeiras e de instrumentos de cordas e; mas, com o tempo o menino adquiriu-lhe a confiança e foi convidado a entrar para aprender o ofício. Depois de dominar os rudimentos do que viria a ser uma de suas paixões na vida, fez o primeiro violão, que não deu muito certo; mas em uma segunda tentativa o resultado foi razoável.

Fez também um cavaquinho para o cavaquinista Índio seu futuro companheiro de trabalho no conjunto de música popular Seis grupo formado por Gonzaga ao violão, Índio ao cavaquinho, um trombonista, um percussionista e o cantor/comediante Gordurinha . O grupo se apresentou em muitas cidades, como Mata Grande, Sobralzinho, Água Branca, Floriano Peixoto (antiga Piranhas), Jatobá (atualmente Petrolândia).


No fim de 1944,estando em Pedra,Gonzaga adoeceu: suas pernas começaram estranhamente a ganhar volume e a doer. Procurou tratamento no Hospital de Aracaju, mas, com a falta de recursos médico-hospitalares eficientes para diagnosticar a doença, os médicos a trataram como se fosse sífilis ; logo, não obteve resultado no tratamento; pensou até que iria morrer por causa da enfermidade, depois identificada como uma infecção causada por um micróbio da carne de porco.
Este fato provocou uma guinada em sua vida: vendeu o pouco que tinha, dividiu o dinheiro com a família, e viajou para o Rio de Janeiro, hospedando-se inicialmente na Gávea, na casa de parentes de um amigo com quem viajou de Alagoas para o Rio de Janeiro. Tratou-se no Hospital Miguel Couto durante três meses. Terminado o tratamento, resolveu ficar no Rio, e foi morar em Inhaúma.
A partir de então, começa a história de Luiz Gonzaga da Silva e sua música, no Rio de Janeiro.
Sobre Luiz Gonzaga da Silva e o violão no Rio de Janeiro, Fábio Zanon em programa dedicado ao violão brasileiro, realizado na rádio Cultural FM de São Paulo, declarou:

“Personagens dos mais fascinantes que produziram música, enriqueceram o ambiente violonístico e alimentaram o anedotário da música carioca vieram do Nordeste; o fato não é de se estranhar, já que, na primeira metade do século XX, o Rio oferecia um mercado incomparável, não só no rádio e na noite, mas também na instrução musical e na formação de músicos. Assim, muito do sotaque inconfundível do samba, do choro e do violão-solo carioca foi mimetizado com a bagagem criativa trazida por migrantes nordestinos, como os cearenses Satyro Bilhar e José Menezes, os pernambucanos Quincas Laranjeiras e João Pernambuco, os maranhenses Turíbio Santos e João Pedro Borges, os baianos Nicanor Teixeira e Décio Arapiraca e o alagoano Luiz Gonzaga da Silva.”